Acontece que, no momento, há um problema de superpopulação no outro plano. Muitas pessoas têm morrido ao mesmo tempo; o tráfego para todas as subdivisões do Hades anda intenso, resultando em longas filas de espera; a Ilha dos Bem-Aventurados, cheia de grandes celebridades, tem sofrido com sérios problemas ambientais; os Campos Elísios vivem dando dor-de-cabeça com a imensa quantidade de grupos de sem-terra, sem-teto e corretores de imóveis; o Tártaro, então, nem se fala: vive abarrotado de gente, e com a falta de instrumentos e instalações apropriadas para os torturadores, muita gente ainda tem que esperar muito tempo para receber a devida punição, embora a espera cansativa já valha como uma (isto sem falar das inúmeras pessoas punidas mais de uma vez ou que sofrem condenações erradas, devido a falhas no sistema e, às vezes, à corrupção); para completar, o ciclo de reencarnações anda cada vez mais complicado, já que o sistema de cadastramento, antiquado, não tem dado vazão, lotando os saguões de espera. Enfim, o outro plano está um completo caos.
Por isso, Hades optou, como método provisório, apenas aceitar os casos mais extremos e especiais, deixando as outras almas vagando na fronteira até que a situação no Submundo se regularize.
Pois bem, lá foi o primeiro dos rapazes dos rapazes acidentados diante de Radamanto.
- Que fizeste em vida? - Pergunta o nobre Juiz.
- Bem... Me formei em Biblioteconomia, e...
- Pode parar, pode parar! Fui instruído a só aceitar os casos extremos. Ninguém lembra que você existe, qualquer um pode fazer o seu trabalho, e você não fede e nem cheira. Volte e espere mais alguns milênios.
E retorna o bibliotecônomo desolado. Vai então outro rapaz:
- Que fizeste em vida?
- Bem... Me formei em Geografia, e...
- Pode parar, pode parar! Você com certeza optou por esta carreira porque estava indeciso no momento do vestibular, não é? Não minta pra mim, mortal, possuo o histórico de sua vida. Foi um vagabundo a faculdade inteira, só queria saber de chopada e de posar de "revolucionário", e no fim acabou fazendo concurso público pra qualquer coisa só para arrumar um cabide... Nem continue a falar! Teu lugar é o Tártaro!
E lá foi o geógrafo para a terra das punições terríveis. Segue mais um rapaz:
- Que fizeste em vida?
- Ui, que aflição... Me formei em Letras, e...
- Pode parar, pode parar! Hmmm... Acredito que você sabe o caminho. Tártaro!
E foi o alegre rapaz para o Tártaro. Eis que vem o historiador:
- Que fize...
- Pode parar, pode parar! - interrompe o historiador - Que fazes neste mundo?
- Ora! Mas que ousadia! Sou um Juiz do Submundo, decido o destino de cada alma desencarnada!
- Cargo bom, de autoridade, não é? Mas com certeza não prestou concurso nenhum, não foi? Certamente foi peixe de Hades, escolhido a dedo pelo chefão, não é?
- Bem... É... Sim, mas...
- Agora me diga, qual a sua formação? Aliás, você tem algum curso sequer? Prestou vestibular, teve problemas com a grade de horários, lutou por um diploma como um humano qualquer?
- Como ousa?... Ora... Não... Bem...
- Pois agora me pergunte o que fiz em vida! Vamos!
- É... Que fizeste em vida, mortal?
- Estudei feito um condenado para entrar para a faculdade. Cheguei crente que me tornaria um Indiana Jones e saí professor de CIEP. Não consegui bolsa nenhuma porque não fazia parte do séquito de nenhum professor. Tive que trocar de tema de monografia umas quatro vezes. Saí da faculdade sem saber o que fazer, pra onde ir. Morri de raiva por minha carreira possui paradoxalmente um status tão elevado e uma remuneração tão baixa. Minha namorada me deixou, porque não suportava ir ao cinema comigo. Eu tinha psicólogo porque não suportava o mundo que não me entendia, esse mundo de funk, de Veja, e Márcia Goldsmitch, de novela do Manoel Carlos, de Meia Hora de Notícias... Me decepcionei mais que todos no meu pais por causa daqueles a quem apoiei na política... Enfim, fui um desgraçado, mal-remunerado, incompreendido, deslocado... Acha que devo vagar por aí? Acha que devo ir por Tártaro?
- É, tens razão... - comove-se Radamanto - Vá para os Campos Elísios, que é teu lugar de direito.
E o historiador começou a comemorar. Nisto já vem outro rapaz:
- Que fizeste tu?
- Bem... Eu era o motorista do ônibus que sofreu o acidente...
- Pode parar, poder parar! Siga imediatamente para a Ilha dos Bem-Aventurados. Aliás, teu lugar é a ala VIP!
E o historiador, que não tinha saído ainda, indigna-se e pergunta:
- Ora! Mas porque a mim, após toda a história que ouviste, me manda para os Campos Elísios, e ao companheiro, sem ofensa, um reles motorista de ônibus, mandas imediatamente para a Ilha dos Bem-Aventurados?
- Pois que este realizou um sacrifício muito maior que todos nós reunidos.
- E que diabo de sacrifício foi este???
-Suportou um ônibus repleto de profissionais de Humanas por mais que 5 segundos...
MORAIS DA HISTÓRIA
1- Piada de historiador tem que ser grande, ou seja, tem que ter história.
2- Alguém conhece alguma piada de historiador? Não? Por que será?
3- A piada quase não teve graça. Mas pelo esforço criativo, acho que merece ao menos um sorriso de canto de boca." =D
(Texto de autoria desconhecida, que gostei muito!)
Por falar em historiadores... janeiro é o mês que vou me dedicar a chegar mais perto de ser uma historiadora, por isso não vou abandonar a 'blogosfera', mas dar um tempo!
Cheiros a todos que dedicam um tempinho e leem o que escrevo aqui!
Até breve e torçam por mim, visse?! ;D