Há exatos 100 anos, uma história caiçarense começou. Uma
história nascida pobre, tímida e Pires. Uma história feminina, sofrida e que
inspira, até hoje, a população de uma cidade pequenina do sertão potiguar.
No dia 12 de Junho de 1913 nascia a filha caçula do senhor
João Ferreira Pires, que fez de sua vida, de suas ações, de sua família e fez de
suas memórias ser possível escrever uma grande parte do que se pode contar da
história da cidade Caiçara do Rio do Vento. A mulher do senhor Joaquim Vitorino
de Andrade, dedicada a suas filhas, netos e bisnetos, dedicou-se a sua religião,
como figura atuante, dedicou-se aos assuntos da cidade, como figura pública
emblemática, dedicou-se ao sustento dessa numerosa família, desenvolvendo as
principais atividades econômicas possíveis neste seco e rude território,
despertando fortes sentimentos em todos que a conheceram em vida.
A mulher de fibra, a mãe de belas moças, a senhora séria, a devota
de São Sebastião, a avó respeitada, a senhora engajada e cheia de convicções, a
minha vovó. Eu a conheci nos seus últimos anos de vida, cansada das provações
do tempo, mas sempre com o vigor que demonstrou até aquele seu último natal.
Ela foi a melhor companheira que a infância no interior
poderia oferecer, cuja casa era o refúgio das fugas para quando aprontasse em
casa, onde o quintal poderia ser transformado pela imaginação com liberdade,
apesar da sua casa ser o lugar onde as
ordens tinham que ser seguidas á risca e sem questionamentos. Gosto de pensar
que fiquei curiosa e inventiva por causa da convivência com ela, assim como ter
o gosto pelo passado e pelo meu lugar.
As tardes de domingo não são mais as mesmas desde aquele ‘24
de dezembro de 2000’, quando ela se foi, sendo a recordação constante que
mantemos dela, homenageada pelo poder público da cidade (o nome da rua e a relevância
na Câmara Municipal) e pelos seus familiares (na sua história em cordel, no
Arraiá de D. Inês, entre outros) lembranças que são um conforto diante de
tamanha saudade.
Hoje, nós (seus quase 120 descendentes) comemoramos o
centenário da existência dessa matriarca caiçarense, amada, admirada e saudosa
e que ainda nos dá orgulho quando nos identificamos por aí dizendo que somos
filh@s/net@s/bisnet@s das “meninas de Inês Pires”.